segunda-feira, 17 de abril de 2017

MEU QUINTAL DE SONHOS | MICHELI LAVIOLA



Em meu vazio, encontrei pedaços espalhados de seres que gostaria de ser. Pedaços deixados pelas brincadeiras ao redor do quintal da casa dos meus pais. Estórias interessantes permeavam meu inconsciente infanto-juvenil. Queria ser a heroína com superpoderes. Enfrentava qualquer obstáculo. Tinha o poder em minha cabeça. Mesmo as personagens sem superpoderes eram grandes naquilo que iam fazer: eram superadoras de conflitos humanos. Ninguém podia com elas. Estudavam qualquer coisa: inglês, francês, espanhol, japonês e mandarim; engenharia; dança; canto. Surpreendiam qualquer pessoa que quisesse submetê-las a palavras de derrotismo. O mundo em meu quintal era único, mágico. Poderosa em mente, poderosa em vida. Queria ser tudo. Queria ser o mundo. Viajar sem rumo. Aprender. Conhecer. Sentir. Escrever... Não havia percebido que as palavras estavam espalhadas dentro de mim. Não imaginava que escrever era o meu sonho vivido em um quintal na periferia do Rio de Janeiro. Juntei cada palavra e senti a mim mesma como se me reconhecesse. Ah, as brincadeiras eram as palavras se divertindo naquele lugar todo especial! A lua foi por diversas vezes uma parceira em minhas estórias. Ela abrilhantava aquele lugar escuro e dava o tom ideal para muitas risadas e aventuras. Quantas vezes quis ir à lua! Admirava cada detalhe dela! Via os aviões com suas luzes piscando para mim em um sinal de vida além das nuvens, de histórias a serem contadas. Imaginava cada passageiro que estivesse ali; o que fariam; o seu destino. A lua me salvou. O quintal me salvou. Estou viajando agora. Estou tocando a lua, finalmente.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Contos da Natureza | Micheli Laviola




       No cais,  vejo as ondas em frenético movimento ao contato com a brisa, formando-se uma película que treme ao hálito frio do vento.
   Embarcações navegam sem rumo aparente,  atravessando a linha do horizonte,  unindo-se a essa linha para um sonho de liberdade.
     Sol tem o poder de atravessar a linha mágica, com o fervor de sua onipotência e a sabedoria do recolhimento ao mar.
    Quando o dia envelhece,  nasce a lua de prata com sua luminosidade alva e sem viço do sol.
   Lua abraça poemas e músicas transpassando sentimentos. Ela não envelhece.  Simplesmente, espelha sua beleza nas águas do mar e se apaixona pelas profundezas oceânicas.  Lua imerge para o amor, esquecendo- se das estrelas costuradas no manto negro dos céus.